O Retorno da Princesa

– Amor, tente relaxar, quem tinha que estar nervosa aqui sou eu – ponderou Ardriel – afinal eu é que fiquei “congelada” por mais de quatro anos. E ainda voltei com uma desorientação temporal feia.

– É, você disse para a sua irmã que a gente estava junto à uns quatro anos e meio, quando fazem mais de cinco anos. Alias, quem diria, Rubi sua irmã.  Mas, voltando ao assunto inicial da nossa conversa, você realmente foi congelada, amor, porém eu que fui apunhalado pelas costas pela minha própria familia – retrucou Lucca.

– Do jeito que você fala, até parece que eles conspiraram para apagar a sua memória.

– De fato eles não fizeram mas tão pouco fizeram algo para reverter o quadro.

– O que, no final das contas, segundo a Liliana, acabou sendo útil devido ao tipo de feitiço que jogaram em ti…

– É eu sei mas…

– Então chega de mas, querido. Eu acabei de comprar uma das duas coberturas que tem no prédio dos seus pais, a gente está se mudando para lá, estamos levando a Gala conosco e ainda tem o Miguel à caminho – e, nesse momento, a princesa acariciou a própria barriga – ou seja, a gente vai precisar de toda ajuda possível lá no Rio e isso inclui seus pais e seu irmão. Já fazem quinze dias desde a derrota do Darklit e você passou eles todos aqui. Não que eu não goste de ser paparicada e de receber atenção, na verdade eu amo, mas nem um clone você deixou para trás.

– Tá bom, tá bom, você venceu – sorriu Lucca enquanto abraçava a sua noiva. Alias, por falar em Gala, cadê ela?

– Bem, ela estava brincando com o Aron e com o meu pai e ele ficou de trazê-la aqui.

– Sabe, pode parecer bobagem mas eu não consigo imaginar o seu pai bancando o avô carinhoso…

Antes que Ardriel conseguisse responder, a porta do quarto se abriu e o rei Tauron entrou carregando Galawel, que dormia, nos seus braços, com a cabeça da menina apoiada em seu ombro.

– Não consegue imaginar o que, Lukhz?

– Opa, olá majestade – respondeu Lucca assustado. – Desculpe o meu comentário é que o senhor é normalmente tão sério que fica impossível imagina-lo no meio de crianças.

– Não há porque se desculpar, Lukhz, eu conheço muito bem a minha fama – sorriu o rei. – O que a maioria das pessoas desconhece é que adoro crianças, por mim eu teria tido mais filhos além da Ardriel e da Rubi. E agora, já que o destino me agraciou com dois netos, adotivos, é claro, mas dois netos e com mais um à caminho, quero aproveitar a infância deles o máximo possível.

– Eu sinceramente fico feliz, majestade, ao vê-lo chamar a Galawel de “neta”.

– Ora, rapaz, se a minha filha já a assumiu como filha dela, a ponto de já ter mandando publicar essa decisão, minha neta ela passou a ser. E não precisa me chamar de majestade, não quando estamos à sós, afinal, em poucos meses eu serei vosso sogro. Agora, sem querer ser chato nem controlar o horário de vós, mas já não estais atrasados?

– É verdade, pai. Amor, pegue a Galawel e vamos.

Lucca, com cuidado, para não acordar a menina, a pegou no colo e, depois dos dois se despedirem de Tauron, com apenas a força do pensamento, os três partiram para a Terra. Eles reapareceram na sala do apartamento dos pais de Lucca onde estes os esperavam. Ao ver a princesa ali, parada, na frente dela, Julieta, mãe de Lucca, caiu de joelhos diante dela.

– Minha filha, você pode me perdoar? – perguntou ela, olhando para cima, com lagrimas nos olhos.

– Perdoar pelo que? – perguntou a princesa, com um sorriso, enquanto ajudava a sogra a se levantar.

– Por não ter acreditado no meu filho e no meu enteado quando eles insistiram que você, quer dizer, que vossa alteza estava viva.

– Primeiro, copiando o que meu pai disse à pouco para o Lucca, não precisa me chamar de alteza, em poucos meses você será minha sogra. E, segundo, não tem o que perdoar, afinal, como eu disse para o cabeça dura do seu filho, a senhora não fez nada para me prejudicar – e, apos responder isso, Ardriel abraçou Julieta.

Depois de alguns segundos, Julieta se afastou um pouco e, com os olhos ainda vermelhos, tornou a falar:

– É bom tê-la de volta – sorriu a senhora -, eu sei que impliquei um pouco com o namoro de vocês quando eu soube da verdade sobre você mas devo admitir, alte.. quer dizer, Ardriel, que o relacionamento de vocês sempre fez muito bem para o meu filho.

– Acredite, fez muito bem para mim tambem.

– Desculpe me meter na conversa mas é verdade que eu vou ser avô de novo? – perguntou Giuseppe, que, até então, se mantivera calado.

– Sim – sorriu Ardriel.

– Quem diria, meu filho caçula vai ser pai – sorriu Julieta.

– Bem, mãe, acontece que eu já sou pai… – falou Lucca, se adiantando, com Galawel no colo.

Julieta e Giuseppe olharam ao mesmo tempo para o filho, com um certo ar de espanto pois era a primeira vez que eles reparavam na criança que ele trazia nos braços.

– Essa ai não é a filha da amiga da Liliana que o Sieg e ela estavam criando? – perguntou Giuseppe.

– Exatamente, pai. Filha de uma amiga dela comigo – respondeu Lucca.

O casal ficou em silencio por um breve instante, sem saber o que responder até que Giuseppe quebrou o silencio, perguntando com um ar aflito:

– Meu filho, você não ousou trair a princesa, não é mesmo?

– Não, meu sogro, ele não me traiu – respondeu Ardriel, rindo. – Digamos que a Galawel foi “encomendada” antes de começarmos à namorar.

– Ufa… Como é que eu ia olhar para o seu pai se o meu filho tivesse traído a filha dele, hein?

– Mas não traiu, querido, então relaxe. Alias, meu filho, o fato dela estar aqui significa o que eu penso que significa? Que você pretende cria-lá aqui?

– Nós pretendemos – falou a princesa, com um sorriso. – Eu já a adotei lá em Noritvy e pretendo adota-la aqui tambem. Galawel já é como uma filha para mim.

A princesa mexeu nos cabelos da criança e sussurrou no ouvido dela: “Filha, acorda, está na hora de conhecer seus avós”. A menina, como se atendesse o pedido da sua mãe adotiva, abriu os olhos, deu um bocejo e ficou olhando para os avós.

– Boa tarde, filha – sorriu Lucca. – Esses são os seus avós Giuseppe e Julieta, pais do papai, aqueles de quem eu lhe falei.

– Oi – disse a menina num tom sonolento e depois, se voltando para o pai, emendou: – vovô parece o tio Sieg, só que mais velho.

Diante do comentário da criança, os adultos presentes na sala começaram à rir. Julieta pegou a menina no colo e acariciando os cabelos dela, falou:

– Porque você não me diz o seu nome e a sua idade? O seu pai me disse mas acho que sua vó aqui já esta começando a ficar velhinha e eu esqueci, então, porque você não me conta?

– Meu nome é Galawel Fornorimar Bianchi e eu tenho quatro anos, mas daqui a pouco faço cinco – respondeu e, se virando para Ardriel, emendou: – Eu disse direito, mãe? Meu outro vô me fez decorar hoje.

– Perfeito, minha filha, perfeito – sorriu a princesa.

– Outro vô? Por acaso ela se referia ao rei? – perguntou, baixinho, Giuseppe para Ardriel.

– Sim, como eu adotei ela, meu pai faz questão que ela o chame de avô e que ela carregue o sobrenome dele – comentou Ardriel.

– Tauron não mudou nada. Faz pose de bravo mas basta o sorriso de uma criança para desmonta-lo. Me lembro de você pequena agarrada nas pernas dele – disse Giuseppe.

– As vezes eu me esqueço que você me conheceu ainda criança.

– Sem problemas, minha nora, viagens no tempo criam certas confusões.

– Desculpe interromper a conversa mas Galawel é um nome muito incomum, não acham? – comentou Julieta, ainda com a neta em seus braços. – Não que “Ardriel” seja comum mas é mais discreto. Não seria melhor pensarmos em algm nome para ela usar aqui?

– A gente já pensou nisso, mãe, mas não chegamos a nenhuma conclusão. Se tiveres alguma sugestão….

– Por acaso a minha neta tem algum apelido?

– Olha, ela própria se chama de Ga ou Gala por que acha o próprio nome complicado – comentou Lucca.

– Ga, Gala…. Que tal Gabriela? – falou Julieta e, se virando para a neta, perguntou: – Você gosta de Gabriela, Gala?

A menina parou olhando para o teto por alguns segundos mas depois abaixou a cabeça, olhou para a vó e respondeu:

– Gosto. Gabiela é mais simples que Galawel.

– É Gabriela, filha – disse Lucca enquanto fazia um cafuné na menina.

– E não foi o que eu disse, pai?

Todos tornaram a rir diante da singela e honesta resposta da menina.

– Se ela gostou, então está definido, será Gabriela – disse Ardriel. – Agora, minha filha, vem um pouco com a sua mãe pois vovó não pode ficar muito tempo carregando você, afinal você já é bem pesadinha.

– Nem você, amor, lembre-se da gravidez – comentou Lucca.

– Amor, eu estou gravida, não invalida.

– Minha nora, meu filho não está de todo errado. Você tem que cuidar bem do bebê que você carrega. Alias, depois eu gostaria que você visitasse uma obstetra amiga minha, só para checar como esta a sua gravidez.

– Claro, meu sogro, com prazer.

– Gala, enquanto os seus pais e o vovô ficam conversando esse papo chato de adultos, que tal explorar a casa da vovó? – perguntou Julieta à neta que se encontrava em pé, no chão, segurando na perna da calça do pai, como sempre fazia quando estava nervosa.

– Claro!

Julieta deu a mão à neta e foi, junto com ela, em direção aos quartos do apartamento. Ao ver que a esposa saira, Giuseppe olhou bem serio para o filho e disse:

– E você, filho, já nos perdoou? Eu sei que as vezes a sua mãe é difícil, que ela pega no seu pé por causa dessa sua vida dupla mas ela faz isso por que realmente acha que esta fazendo o melhor para você. E você sabe que dona Julieta, apesar de durona, é uma otima pessoa. Já até aceitou a sua filha de braços abertos.

– Você realmente acha, “seu Beppe”, que eu estaria aqui se não tivesse perdoado?

– Acho que não mas, sei lá, vai que a Ardriel te obrigou, né?

– Superestimas minha influencia sobre o seu filho, meu sogro.

– Eu sei que a mamãe faz isso para o meu bem mas, sabe como é, as vezes é complicado, pai. E quanto aceitar a Gala, bem, ela viria para cá comigo de qualquer maneira, ela aceitando ou não. Mas sempre achei que ela aceitaria, afinal “dona Julieta” sempre fez o estilo “mãezona” dando bronca nos meus amigos como se fossem filhos dela.

– E eu não sei? Afinal, são trinta e três anos juntos, filho. E, acreditem, é por nós dois que eu falo quando digo que é bom tê-los de volta.

– É bom estar de volta – retrucou, sorrindo, Ardriel.

Giuseppe, com lagrimas nos olhos, abraçou os dois enquanto sussurrava: “não sumam de novo, o coração desse velho cavaleiro não agüenta mais surpresas”.

Depois de algum tempo, Julieta e Gala voltaram à sala. Depois do jantar, Lucca, Ardriel e Galawel retornaram à Noritvy embora, no dia seguinte, a princesa já tivesse de volta à Terra para comprar moveis para o seu novo apartamento, estando, no momento da compra, acompanhada de sua sogra.

Dez dias após a conciliação promovida por ela, Ardriel se mudava, junto com sua filha adotiva, Galawel e com seu noivo, Lucca, para a cobertura que ela havia comprado e onde eles morariam e seriam felizes por muitos e muitos anos.

Fim

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