Sombras do Passado

(Trecho 2)

2-

Os cinco se viram de repente num lugar todo negro onde a única luz provinha de uma chama criada por Ardriel.

– Pai, o que está havendo? – perguntou Mariana

– Não sei, filhota.

Antes que mais alguém pudesse falar alguma coisa, uma risada cortou o ar e parte das trevas assumiu uma forma humanoide.

– Har’Gorth, já devia imaginar que era você – disse Lucca. – Seu mestre está com medo de me enfrentar?

– Ora, cavaleiro, você deveria saber que, diferente de mim, meu mestre não tem poder neste mundo. Mas não importa, eu sirvo para fazer as vontades dele e hoje meu assunto não é contigo e sim com os ex-servos de Darklit.

Duas mãos de trevas surgiram e levantaram Rai e Paulus pelo pescoço.

– Onde vocês esconderam o livro que o seu mestre roubou do meu?

– Você está achando o que, cramunhão? Que eu vou ajudar aquele defunto? Nem morta – respondeu Rai.

– Morta? Isso pode ser providenciado.

A mão que a erguia começou a apertar o pescoço de Rai, mas uma rajada de luz cortou esta e a que erguia Paulus. Quando Har’Gorth olhou para o lado, Lucca estava segurando uma de suas famosas espadas, que brilhava como uma estrela.

– Filha, proteja os dois com um campo de força – disse ele.

Atendendo ao pedido do pai, Mariana foi para junto de Paulus e Rai e, com um gesto de mão, fez surgir um campo de energia circular em torno dos três.

– Agora terás que se ver comigo, demônio – disse Lucca – e imagino que estejas ciente do estrago que minha espada, mesmo aqui na Terra, pode fazer em você.

– Eu adoraria descobrir, cavaleiro, mas não tenho negócios com você hoje. Servos de Darklit, vocês têm uma semana para me darem o que quero ou eu voltarei. E eu duvido que o Cavaleiro Branco possa protege-los 100 por cento do tempo.

Do mesmo modo que surgiu, a nuvem negra sumiu e os cinco se viram de volta aos bastidores. Aparentemente era como se o tempo não tivesse passado pois ninguém ali notara nada.

– Luquinha, obrigado pela ajuda.

– É meu papel como herói, Paulus, ajudar quem precisa. Aliás, de que livro ele falava afinal?

– Bem, lembram quando Sad’Gorth traiu nosso antigo mestre e avisou vocês de que ele pretendia recriar a “Ceifadora de Almas”?

– Sim, claro.

– Como punição pela traição, nosso mestre nos fez roubar e esconder um dos tomos negros que o Sad’Gorth possuía.

– E é este que ele quer de volta?

– Exato.

– Entendo. Paulus, você ainda lembra aonde escondeu o livro?

– Claro.

– Então me conte, eu irei recupera-lo e dar um jeito no velho saco de ossos do Sad’Gorth.

– Não tenho como agradecer, Luquinha. Assim que chegar em casa prepararei um mapa e ele enviarei por email. E, mais uma vez, obrigado.

– Não precisa agradecer, como eu disse antes, é meu papel como herói. Agora, se me dá licença, temos uma missão a preparar. E não se preocupem, tanto você quanto a Rai estão ótimos. Já usei meus poderes para checar isso. E, Rai, o bebê também está bem.

– Bebê? – falou Paulus intrigado.

– Obrigado por estragar a surpresa – reclamou Rai com cara de poucos amigos. – Já que estragastes, pelo menos podia me dizer o sexo do bebê?

– Vai ser uma menina. Meus parabéns pela criança, agora, se nos dão licença, temos o que fazer e planejar.

Os três saíram deixando Paulus e Rai para trás.

– Eu falei que o meu plano era perfeito – sorriu o estilista, falando num tom de voz bem menos afetado do que usara até então.  

– E eu não acreditei.

– Ora, querida, sempre podemos contar com a nobreza do Lucca. Quando Sad’Gorth começou a aparecer nos meus sonhos exigindo o livro, sabia que que só ele poderia nos ajudar.

– Nós tivemos foi sorte que a filha dele sonha em ser modelo.

– É verdade, mas eu daria um jeito de atrai-los hoje, no dia marcado por Sad’Gorth para a entrega e de conseguir a ajuda deles.

– Não duvido, querido. E quanto à filha deles? Vai continuar chamando-a para desfilar uma vez que já conseguiu o que querias?

– E por que não? Você tem que concordar que ela é linda e foi muito bem na passarela.

– De fato.

– E é sempre bom ter heróis ao alcance. Principalmente para pessoas com o nosso passado, digamos, “negro”.

– Paulus, realmente tenho que reconhecer que as vezes você é genial.

– Só as vezes? – sorriu o estilista. – Alias, que história é essa de bebê?

– Eu queria lhe fazer uma surpresa, mas aquele cavaleiro idiota estragou.

– Não importa, o que importa é que vamos ter nossa princesa.

– Que bom que você gostou. Aliás, você podia pensar em parar de usar esse tom de voz afetado que usou com eles e que volta e meia usas nas entrevistas.

– Ora querida, o público espera um estilista afetado e que fique desmunhecando, por que não dar ao público o que ele quer? Sem falar que ajudou a reforçar o visual de “Madalena arrependida” diante do Lucca, não?

– De fato, embora você não tenha mentido quando falou nas doações.

– Lucca é um detector da verdade vivo, nunca se esqueça disso. Podemos omitir coisas dele, mas mentir para ele é burrice. E você bem sabe que só parei de ter pesadelos e gritar durante a noite depois que passei a doar dinheiro. E eu troco todo o dinheiro do mundo por uma boa noite de sono.

– Paulus, você é uma figura e tanto.

– E, no entanto, me amas assim mesmo, não?

Um pouco mais tarde, Lucca discutia com a filha em casa.

– Pai, eu vou, quer você queira ou não.

– Mari, você nunca foi numa missão.

– Ué, não é você que me cobra participar mais desse lado da família?

– Sim, mas….

– Então, o Paulus me ajudou, eu quero ajudar ele também.

– Entendo…

– Então eu estou dentro?

– Ok, mas você não vai sozinha…

– Pai…

– É pegar ou largar…

– Tá bom, eu pego.

– Ótimo.

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