Uma grifa para uma princesa

Ardriel, grávida dos gêmeos João e Mariana, já no final da gravidez e trazendo no colo seu filho Miguel, um bebezinho de um ano, passeava pelos jardins do Castelo de seus tios acompanhada de sua enteada, Galawel, uma encantadora criança de então seis anos, e de sua cunhada, Vali, quando uma pessoa familiar as abordou.

O recém-chegado nada mais era do que Tilan V, um corpulento anão de barba ruiva, já um tanto grisalha, que era o rei de Griffia, reino vizinho à Arlon e Erdan.

– Princesa, bem que vossos tios disseram que eu podia encontrá-la aqui – sorriu ele. – Aliás, quem é esta formosa dama que a acompanha?

– Esta é minha cunhada, Vali, irmã caçula de meu marido, majestade – respondeu Ardriel.

– Vali, “preciosa”, um nome que combina com ela, de fato – disse, de maneira galanteadora, o anão.

Vermelha de vergonha, a elfa nada conseguiu dizer.

– Diga, meu amigo, o que o trazes aqui neste dia? – perguntou Ardriel.

– Vim conversar com vosso tio, tratar de alguns acordos e também trazer-lhe um presente.

– Um presente? Para mim?

– Sim, queiram, por favor, me seguir.

Aceitando o convite do rei anão, as elfas o seguiram até os estábulos reais. Lá entraram numa câmara que se encontrava guardada por dois soldados anões. No fundo da câmara, deitado sobre a palha, estava um pequeno grifo a dormir.

– Este é o seu presente – sorriu Tilan. – E saiba que não é um grifo comum. Essa menina, sim, é uma fêmea, é o maior filhote que já nasceu lá em Griffia, somente o Flecha, grifo do seu marido, era maior do que ela nessa idade, mas ele era um grifo selvagem, que são ligeiramente maiores. Contudo, não é por isso que eu resolvi dá-la de presente a ti. Repare bem a cor do pelo dela.

Ardriel e Vali se aproximaram mais da filhote que ali dormia.

– Meu, a cor do pelo dela é quase igual ao dos seus cabelos, Dri – comentou Vali.

– Realmente, é impressionante – comentou Ardriel.

– Exato, por isso resolvi que ela deveria pertencer a ti – disse Tilan. – Esta cor de pelo é única, nunca tinha visto uma grifa de pelo acobreado antes. E acho que o “velho” Flecha precisa de uma companheira.

– Mas ela vai aceitar a Dri como dona? Meu irmão sempre disse que grifos são geniosos.

– Digamos, senhorita, que vossa cunhada tem um dom especial com as feras.

A princesa entregou o filho para a cunhada e caminhou até onde a grifa estava. Apesar da barriga, não teve dificuldade para se acocorar e começar a fazer cafuné no pequeno animal. A grifa abriu os olhos, lambeu a mão dela e voltou a dormir, encostando a cabeça nos pés da princesa.

– É, pelo jeito ela gostou de mim – sorriu Ardriel. – Tilan, essa menina já tem um nome?

– Já. E um nome bem apropriado.

– Qual?

– Princesa.

Ardriel começou a rir e voltou a fazer cafuné na cabeça do animal.

– Seja bem-vinda à família, Princesa – disse Ardriel num tom maternal.

Conta-se que no início Flecha estranhou a nova companhia, mas depois aceitou e, quando Princesa cresceu, acabaram por se tornar um casal e, assim como um grifo só aceita um dono na sua vida, ele também só aceita uma companheira. Flecha e Princesa tiveram vários filhotes, que, sua por sua vez, serviram de montaria para os filhos e sobrinhos de Ardriel e Lucca. O primeiro deles foi um grifo quase igual ao pai, por isso batizado de Flechinha e que veio a ser companheiro de aventuras de Galawel.

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