A Contenda

Nota do autor: Esse conto se passa mais ou menos um mês depois dos eventos narrados nos posfácio de “O Retorno do Cavaleiro Branco”.

01-

 Um belo dia de sol no reino de Erdan. Uma carruagem se deslocava para o sul, tendo dentro dela quatro passageiros especiais: as princesas Rubi e Ardriel Fornorimar e Lukhz Bianchi, marido da ultima, alem de Galawel Bianchi, filha de Lukhz e enteada de Ardriel, na época com quatro anos.

– Me expliquem de novo – falou Rubi. – Por que mesmo estamos fazendo essa viagem?

– Porque a Marquesa de Grifhin está tendo uma disputa de terras com um nobre vizinho e eles decidiram resolver tudo numa contenda, num torneio amistoso envolvendo o campeão de ambos os lados – respondeu Ardriel – e, para isso, é necessário um juiz.

– E este vai ser você, né mana?

– Não, vai ser você, Rubi.

– Eu?

– Sim, você. No decreto do nosso pai que a colocou como a segunda na sucessão do trono lhe foi atribuída a capacidade de servir de juíza em situações como essa.

– Além disso, cunhada, sua irmã não pode se estressar, devido à gravidez e eu tampouco seria aceito como juiz, logo sobrou para você.

– Por que você não seria aceito?

– Porque, digamos, o outro lado da contenda não aceitaria muito bem o meu nome.

– Como assim?

– Bem querida cunhada, você terá somente uma chance de palpitar: qual tradicional casa aqui de Erdan não vai com a minha cara?

– Não me diga que é a casa de Ralit.

– Bingo!

– Entendi. Agora, já que o pepino sobrou para mim, eu gostaria de saber mais dessa Marquesa e da família dela.

– A Marquesa chama-se Lady Elaine Havillan – respondeu Ardriel. – Ela é de uma tradicional família de comerciantes elficos da vila de Grifhin, fundada por eles. São também conhecidos por serem os únicos, além dos anões, a domarem grifos.

– Antes de mim, né amor – comentou Lucca.

– Exato, querido. Os Havillan ficaram famosos por domar os grifos da planície, que diferente dos grifos das montanhas, criados pelos anões, são menores, mais rápidos e mais coloridos.

– Coloridos, Dri?

– Sim, tem alguns azulados, amarelos. Inclusive a filha de Elaine, Gabys, cavalga uma grifa lilás.

– Lilás? Deve ser bonito mesmo. Alias, desculpa, pode ser bobeira minha mas vocês não acham que estamos viajando com pouca segurança?

– Discordo, Rubi. Comandando a carruagem estão dois dos melhores soldados do seu pai e, sobrevoando a carruagem esta o meu grifo. Sem falar que, bem, modéstia à parte, teria que ser um exército para derrotar a mim e à você na porrada.

– Sem falar, irmã, que eu estou gravida, mas não incapaz. Minhas magias de fogo ainda são bem potentes.

– Tá certo, já não está aqui quem falou, meu.

Depois de algum tempo, eles chegaram à vila de Grifhin. A vila era uma típica vila de Erdan, construída com casas de pedra caiadas de branco, telhas de barro, com ruas largas forradas de paralelepípedos, movimentada e alegre. A discreta carruagem onde eles se encontravam seguiu direto pela avenida principal, se dirigindo à casa dos Havillan, que ficava no final desta. Ao longe ja era possível ver a arena montada para a contenda.

Os quatro desembarcaram na mansão e logo foram anunciados pelo mordomo. A marquesa, uma elfa de cabelos castanhos claros, que trajava um longo vestido roxo com detalhes em lilás, e sua filha, uma elfa de cabelos loiros, que vestia uma calça folgada de linho, botas, um top de couro e, por baixo deste, uma blusa branca de mangas compridas, vieram recebê-los.

– Altezas, é uma honra recebê-los mais uma vez em minha casa – disse a marquesa. – É uma pena que vós não tenhais aceitado o meu convite para se hospedar aqui.

–  Somos gratos pelo convite, mas, a princesa Rubi, como juíza da disputa, não pode tomar nenhuma atitude que pareça favorecer nenhum dos dois lados. E eu, minha esposa e nossa filha decidimos acompanhá-la – respondeu Lucca.

– Entendo, meu príncipe, mas que fique claro que o convite foi feito – sorriu Elaine.

– Por favor, marquesa, eu fico sem graça em ser chamado de príncipe.

– Não adianta, Lukhz, agora vossa alteza é nosso príncipe. Manda o protocolo que lhe chamemos de príncipe ou mesmo alteza – falou Gabys, que até então se mantivera calada.

– Até tu, Gabys? – resmungou o cavaleiro.

– Exatamente – retrucou a jovem enquanto fazia uma careta.

Ardriel e Lucca começaram a rir.

– Agora sim, essa é a Gabys que a gente conhece – sorriu a princesa. – Estava te achando muito séria, menina.

– Com todo o respeito, princesa, já não sou mais aquela garotinha de quinze anos que vocês conheceram à mais ou menos cinco anos e, embora eu continue brincalhona, agora não é a hora para isso.

– Hora?! – fez uma careta Lucca. – Amor, temos que ir, marcamos um breve encontro com a outra parte lá na nossa hospedaria e, você sabe, Lord Harduin Ralit já não vai muito com a minha cara, se chegarmos atrasados, vai ser meia hora de reclamações.

– Meia hora? Você está sendo bonzinho, Lukhz, do jeito que ele te “ama”, vai ser uma hora mesmo – retrucou Rubi.

– Lu, quer dizer, meu príncipe, por que o não mandas à merda? – perguntou Gabys.

– Olha, eu já mandei, mas quem disse que ele vai?

– Lukhz, olhe a língua, tu és meu marido e príncipe do reino, tem que dar o exemplo – falou Ardriel, segurando o riso. – Agora, se as senhoras nos dão licença, devemos partir.

Eles se despediram de suas anfitriãs e partiram para a hospedaria, um imenso casarão de três andares, construído com rochas cinzentas num formato que lembrava um pequeno castelo.

De fato, ao chegarem lá, Lord Ralit já estava esperando por eles e, como previsto por Lucca, começou uma ladainha de reclamações que só se encerraram quando Rubi, imitando o estilo de seu pai, o Rei Tauron, deu dois berros com ele e o colocou para correr.

– Meu, que cara chato – resmungou Rubi, já acomodada numa poltrona na antessala que ligava o quarto dela ao quarto de sua irmã. – Afinal, porque ele implica tanto com você, Lucca?

– Ih, longa história – comentou, sorrindo, Lucca.

– Desembucha e não enrola.

– Tá bom, tá bom. Tudo começou com o pai dele, Hardin Ralit, o primeiro Visconde de Thundering. Ele era um elfo, braço direito do seu pai quando este fundou Erdan e por isso foi agraciado com o título de Visconde. Ele lutou ao lado do meu pai na Grande Guerra Negra. Logo de cara ele teve ciúmes do meu pai por este ter conquistado a confiança do rei Tiron e do seu pai de maneira rápida e logo ascender a um dos comandantes de campo do exército da Aliança. Além disso, eles eram rivais no amor: Hardin era apaixonado pela cunhada dos reis, Cindaria.

– Peraí, Cindaria? – falou Rubi. – A minha tia Cindaria, mãe do Sieg?

– Essa mesma. Mas Cindaria preferiu o meu pai à Hardin e, mesmo quando o meu pai partiu, quando Hardin a pediu em casamento, oferecendo para criar o Sieg como filho dele, mesmo assim ela o rejeitou. Hardin gostou dela até o dia que ela morreu. E, quem diria, muitos seculos depois, ele, que sempre teve preconceito com relação a meio elfos e humanos, se apaixonou por uma humana que era muito parecida com a Cindaria, que veio a ser a mãe do Lorde Ralit que conhecemos. Mas a briga não acabou aí. Anos depois, Harduin tentou ser o campeão de Arlon, mas tomou uma surra do Sieg. E quando ele estava contente com o fato de que pelo menos ele era um nobre, um Visconde, seu tio Tiron nomeia Sieg Duque, o maior título de nobreza fora da família real. O que só complicou mais ainda relação entre os Ralit e os Bianchis.

– Sendo que o fato de teres sido campeão do mesmo torneio de Arlon que o neto de Harduin, Solanum, disputou também não ajudou muito, né amor?

– Bobagens do Harduin, eu me dou super bem com o Solanum até hoje. Claro que eu constantemente peitar o Harduin, bem, isso sim faz ele ficar um pouco irritado.

– E esse Solanum é bom? – perguntou Rubi.

– É sim, é bem bom e você terá chance de vê-lo em ação, porque ele é o campeão da Casa de Ralit – respondeu Ardriel.

– E quem vai lutar pelos Havillan? – tornou a perguntar Rubi.

– Gabys, afinal ela é filha única. E é excelente lutadora – respondeu, desta vez, Lucca.

– Como você sabe? E, afinal, qual é a relação de vocês com ela? Afinal ela parece bem intima de vocês.

– Bem, cunhadinha, quando eu estive aqui pela primeira vez, à pedido do seu pai e do seu tio, eu treinei alguns jovens de famílias nobres e abastadas. Destes jovens, Gabys, então com quinze anos, foi um dos que mais se destacou. Eu diria que até recentemente ela era minha melhor aluna, até que eu tive uma outra aluna que superou todas as expectativas.

– Quem?

– Você, minha cunhadinha.

– Eu? Exagero seu Lu…

– Talvez. Mas o fato é que se vocês duas se enfrentassem, eu não me arriscaria em apostar numa vencedora, pois embora ela seja mais rápida e a técnica dela seja muito boa, você é mais alta, e, bem, sua mãe era uma Bianchi, assim sua força é consideravelmente maior. Não me pergunte como a pedra focal foi capaz de compreender isso uma vez que o seu corpo original é o que está na Terra, transformado em humana mas é. O que importa é que no duelo entre força e técnica, bem, não sei quem venceria.

– Tá beleza, não vou lutar mesmo, vou ser a juíza. Aliás, posso fazer uma pergunta?

– Pode, cunhadinha.

– Por que tanto roxo?

– Como assim, irmã?

– Bem, o brasão dos Havillan é lilás com dois grifos roxos, a cortina da casa era lilás e a marquesa usava um vestido roxo.

– Os Havillan fizeram fortuna com o comercio de vinho, entregando vinho por via aérea, literalmente. Por isso a fixação pela cor roxa e suas variantes – explicou Lucca.

– Entendi. Mais alguma instrução de última hora?

– Agora não me ocorre nada – respondeu Ardriel.

– Ah, cunhadinha, amanhã você irá para a Arena na frente, junto com a sua irmã e com a Gala, eu as alcançarei depois.

– Por quê?

– Meu marido, Rubi, veio em parte, para cá para investigar a disputa que está ocorrendo aqui. Os Ralit e os Havillan são vizinhos a décadas e, agora, de repente, resolvem brigar por um terreno lamacento que não serve para quase nada?

– Exatamente, amor, não faz sentido. Espero só não encontrar a Borguia por aí.

– Borguia? – perguntou Rubi.

– É a meio orc que serve de dama de companhia da Lady Gabys, irmã.

– E qual o problema? Nossa tia também tem uma dama de companhia meio orc.

– Só que a dama de companhia da tia de vocês não é tarada.

– Tá, ela é tarada, e daí?

– E daí, cunhadinha? Imagine uma pessoa quase tão forte quanto eu apertando a tua bunda e você vai ter idéia do que passei.

– É, bem, faz sentido – comentou Rubi fazendo uma cara de dor. – Posso fazer um comentário indiscreto?

– Pode irmã, pode.

– Ainda bem que a campeã dos Havillan é uma mulher. Porque ia ser meio estranho ver um homem lutar defendendo um brasão lilás com flores vermelhas no centro.

Lucca e Ardriel começaram a rir diante do comentário.

02-

No dia seguinte, enquanto Lucca investigava, Ardriel, Rubi e Galawel se dirigiram à Arena construída nos arredores de Grifhin.

A arena se encontrava decorada com as cores das duas casas, sendo metade dela decorada com flâmulas vermelhas onde se via um cavalo negro e metade com flâmulas lilás onde se via um grifo roxo.

O local reservado para elas era uma tribuna cercada situada metade no lado vermelho, metade no lado lilás, de modo a demonstrar a neutralidade da juíza. E, hasteada acima da tribuna, se encontrava a bandeira de Erdan: uma bandeira retangular dividida em três faixas horizontais: uma verde escura no topo, uma branca no meio e uma vermelha escura na base.

As princesas tomaram o seu local enquanto esperavam as delegações virem se apresentar.

A primeira delegação era a dos Ralit, liderada pelo Lord Ralit e por Solanum, que ja trajava sua armadura de batalha, toda vermelha.

– Princesas, – disse Solanum, fazendo uma reverencia – é uma honra estar diante de vós. E, como prova de que desejo lutar de maneira mais limpa possível, entrego-lhes minha espada para que essa fique sobre vossa guarda.

O guerreiro elfo desafivelou sua espada e a entregou para Rubi. Num primeiro momento parecia apenas um florete comum, mas aquela era a Espada da Tempestade, capaz de convocar raios a partir das nuvens do céu.

Em seguida, foi a vez da comitiva de Havillan. Curiosamente, Gabys não se encontrava nesta e a Marquesa chegou acompanhada de sua sobrinha, Vanys, uma arqueira élfica de cabelo castanho e mira precisa e de Borguia, a dama de companhia de sua filha, uma meio orc baixa, mas corpulenta com uma pele levemente acinzentada e grandes olheiras.

– Minhas princesas, peço desculpas pela ausencia da minha filha, mas ela alegou querer fazer uma entrada triunfante, sabe como são esses jovens – falou a Marquesa enquanto fazia uma reverencia. – Mas garanto que em breve ela estará aqui.

– É bom mesmo, Marquesa, ou eu serei obrigada a declarar a casa de Ralit vencedora – respondeu Rubi.

– Ela estará, senhora.

Mal a marquesa havia pronunciado tais palavras e uma sombra se fez notar na arena. Quando todos olharam para cima, viram Gabys chegar montada na sua grifa lilás, usando uma armadura num tom lilás-metálico.

– Meu, o grifo é lindo, mais lindo que o Flecha do Lucca, mas a armadura tinha que ser lilás? – comentou, baixinho, Rubi com a irmã.

– Discordo, a grifa de Gabys é linda, mas o grifo do meu marido é mais bonito e a cor dele é igualmente rara. Quanto a armadura, bem, não comente dela com o Sieg.

– Por quê?

– Porque ele apanhou para acertar o tom da liga e a armadura adquirir essa cor.

– Ok. Aliás, uma luta entre uma armadura vermelha e uma lilás, bem, vai ser algo de doer os olhos.

– Irmã, sugiro que brinques menos e preste mais atenção na luta que já vai começar – disse, segurando o riso, Ardriel.

Ao mesmo tempo, os dois adversários começavam os rituais pré batalha. Cada um montado no cavalo que usaria para o duelo se dirigiu à arquibancada adversaria e fez uma mesura. Terminado isso, foram até a sua respectiva arquibancada e repetiram o gesto. Por fim, trocaram um aperto de mão ao centro da arena.

– Esperava não ter que enfrentar uma ex-aluna num duelo como este – falou Solanum para Gabys durante o aperto de mão.

– Não se preocupe, “professor”, tentarei não o humilhar.

– Eu falo sério, Lady Gabys.

– E eu também. Seu avô quis esse conflito, mas eu vou encerrá-lo.

– Se você o diz… – disse o cavaleiro, dando de ombros.

Enquanto os dois adversários cumpriam o protocolo pré duelo, Lukhz silenciosamente entrou na arena e se sentou na tribuna reservada à delegação real.

– Olá meninas – disse ele sorrindo. – Pelo jeito a lenga lenga protocolar foi suficiente para me dar tempo de chegar aqui.

Ardriel saudou o marido com um estalinho nos lábios e Galawel já tratou de se acomodar no colo do pai.

– Chegastes na hora certa, amor. Descobristes alguma coisa?

– Muita. O tal terreno lamacento, que na verdade é um chaco, não é tão inútil assim. Dele se originam dois riachos, um corre para o lado dos Havilan e o outro para o dos Ralit e são usados para regar as respectivas plantações. A confusão começou porque surgiu um boato de que os Havilan iam represar o riacho que abastece o chaco, cortando assim a água que corre para terra dos Ralit. Todo mundo do lado dos Havilan que eu entrevistei, negou isso, dizendo que é bobagem e eu acredito neles.

– Tá, Lukhz, mas se isso é mentira, obviamente quem plantou isso queria ver a briga dos dois – comentou Rubi.

– Exato, cunhadinha.

– Mas, amor, quem ganharia com a briga dos dois?

– Bem, quanto a isso, tenho um palpite, mas não tenho nenhuma prova real. Você está ciente, querida, que, atualmente, por decisão do seu pai, a patrulha da fronteira do reino, nessa região, é feita sob supervisão do Visconde de Thundering e da Marquesa de Grifhin, certo?

– Sim, na época que estávamos ausentes aumentaram a passagem de bandidos e de contrabando pela fronteira e como o velho Arquiduque do Delta, devido à sua idade, não estava conseguindo cumprir suas funções, o meu pai repassou estas e a verba destinada à isso para os dois. Mas o que isso tem a ver com a briga toda?

– Bem, na verdade as terras tanto dos Ralit quanto dos Havillan não ficam exatamente na fronteira. Entre eles e a fronteira fica as terras de um nobre local, o Comendador Rathin. Na época que o seu pai passou a incumbência de proteger a fronteira aos dois, o Comendador se ofereceu para ajudar. O seu pai agradeceu o oferecimento, mas disse que os dois bastariam. Bom, segundo eu apurei, ele ficou meio chateado com isso. E pelos motivos errados. Parece que Rathin ganhava uma comissão para permitir a passagem do contrabando pelas suas terras e que ele tem muitas dívidas. Ora, se o seu pai resolver tirar o cargo dos dois, Rathin seria a escolha natural para sucedê-los e seria a solução de seus problemas. Com a verba extra ele pagaria as dívidas e, como responsável pelo controle da fronteira, poderia controlar todo o negócio do contrabando, aumentando sua comissão e determinando o que entraria ou não.

– Meu e o que a gente está esperando para prender esse cara e evitar esse duelo?

– Calma, cunhadinha. Como eu disse, tudo isso é um palpite a partir do que apurei. Eu não tenho provas reais de que ele seja socio dos contrabandistas e, digamos que o meu método de apuração de dados não seja muito “legal”….

– Até imagino qual seja, querido. Mas, te conhecendo bem, imagino que tenhas um plano…

– Claro que tenho. Eu….

Antes que o cavaleiro terminasse de falar, as cornetas que anunciavam o início do duelo tocaram.

– Depois eu falo, vamos prestar atenção na luta – comentou Lucca.

Os dois adversários já se encontravam em extremidades opostas da arena. A disputa seria no formato de um tradicional torneio de cavalaria, por sugestão de Lady Gabys embora, a princípio, por se tratar de um torneio que privilegiasse a força, ela, como mulher, saísse prejudicada.

Cada um, montado no seu cavalo, recebeu uma lança de seu pajem e, ao toque da trombeta, os dois partiram em direção ao adversário. A lança de Gabys resvalou no escudo de Solanum enquanto a lança do rapaz a acertou em cheio, derrubando-a do cavalo. Sem pensar duas vezes, apesar da dificuldade de movimento imposta pela armadura, a guerreira correu para o suporte de armas e pegou uma espada. Firmando o pé, segurando o escudo com a mão esquerda e a espada com a mão direita, ela se preparou para receber um novo ataque do adversario.

Quando Solanum atacou de novo com a lança, Gabys desviou está com o escudo, fazendo a ponta desta prender no chão e, com um golpe da lateral da espada, terminou por desequilibrá-lo e derruba-lo no chão. Ele se levantou rápido, para evitar um novo golpe da adversaria, pegou tambem uma espada e logo um duelo de espadachins começou no centro da arena. Solanum levava vantagem na força física mas Gabys conseguia compensar a luta se valendo de sua maior velocidade e técnica mais apurada.

A luta seguia para um impasse quando um barulho no portão principal da arena chamou a atenção de todos. Uma horda de bárbaros sujos, formados por homens, orcs e outras criaturas igualmente feias invadiram o recinto. O líder deles era um homem de cabelo castanho sujo, com uma barba levemente grisalha, que carregava uma grande espada e estava acompanhado de um orc imenso que carregava um machado gigantesco. Ao gesto do lider, um dos invasores correu até onde estava o apresentador do evento, roubou a corneta magica que este usava para anunciar e a entregou ao lider.

– Eu sou Osk, líder dos bandoleiros negros – anunciou ele, através da corneta – e declaro que todos nessa arena são meus reféns, então recomendo que não tentem nenhuma gracinha pois a arena está cercada. Rapazes, por favor busquem o traidor do Comendador.

Os maltrapilhos bandoleiros invadiram a arquibancada e voltaram trazendo um homem atarracado e gordo, vestido com roupas de nobre. Ao mesmo tempo, outro grupo cercara Gabys e Solanum no centro da arena.

– Por que eu acho que isso tem a ver com o seu plano, amor? – comentou Ardriel, olhando sério para o marido.

– Tem e não tem… – coçou a cabeça, sem graça, Lucca. – Eu realmente plantei a informação de que o Comendador estava colaborando com as minhas investigações, mas eu não esperava que eles fossem loucos de atacar aqui e que fossem organizar um ataque tão rápido.

– Provavelmente, meu príncipe, eles já estavam acampados por perto, esperando em caso do torneio se tornar uma briga generalizada – falou, um tanto ofegante, a Marquesa, que chegara na tribuna correndo, acompanhada de Vanys, Borguia e alguns soldados.

– Que seja, preciso agora ajudar sua filha e também o Solanum – retrucou Lucca.

– Desculpa, meu príncipe, mas eu não posso permitir isso – falou, num tom sério, a Marquesa. – A minha prioridade é garantir a segura evacuação sua e das princesas. Minha filha e Sir Solanum são mais do que capazes de se virar.

– Só que alguém tem que entregar a espada de Sir Solanum a ele – contra-argumentou Lucca. – Concordo que minha esposa, gravida, e minha filha são alvos fáceis, mas como faremos então?

– Lu, me arremessa – disse Rubi, se metendo na discussão. – Aqui não é muito alto. Se você me arremessar em direção à arena, conseguirei abrir caminho e entregar a espada.

– Com todo o respeito, princesa, a senhorita não deveria se arriscar tanto – disse a Marquesa. – Minha filha foi muito bem treinada tanto pelo vosso cunhado quanto pelo Sir Solanum.

– Agradeço a preocupação, Marquesa, mas eu sou uma Bianchi por parte de mãe e uma Fornorimar por parte de pai, ou seja, sei me virar e o assunto não está sob discussão – retrucou Rubi.

Rubi checou se todas as presilhas da sua armadura estavam bem afiveladas enquanto, mentalmente, agradecia o fato de ter tido a ideia de ir de armadura para o evento. Checou a bainha de sua espada, que já começara a se tornar lendária depois da derrota de Morte e até recebera um nome: “Fúria Real”, pendurou a espada de Sir Solanum no ombro esquerdo e, com um olhar, confirmou que o cunhado estava pronto. Lucca agachou, apoiado em um joelho e juntou as mãos em forma de concha. Sua cunhada correu e, no momento que ela apoiou um dos pés nas mãos dele e tirou o outro do chão, ele se levantou com velocidade, arremessando-a por cima dos seus ombros. A princesa deu uma cambalhota no ar e caiu no pátio da arena, perto de onde Solanum e Gabys se encontravam.

Sacando sua pesada espada, ela abriu caminho até chegar aonde os dois estavam.

– Princesa, não sou de reclamar de receber ajuda, mas o que a senhora está fazendo aqui? – perguntou Solanum.

– Não reclama, Solanum, é mais do que o seu avô fez, se mandando – retrucou Gabys.

– Meu avô pode ter fugido, mas eu estou aqui, não estou?

– Olha, sem querer ser chata, mas dá para vocês brigarem depois? – reclamou Rubi. – E, Solanum, respondendo à sua pergunta, vim entregar isso – completou a princesa, enquanto jogava o florete para o rapaz.

Formando um círculo, os três se botaram em guarda e se prepararam para se defender dos seus atacantes. Ao mesmo tempo, a tribuna especial também se encontrava sitiada, com Lucca, Borguia e Vanys tentando proteger Ardriel, Galawel e a Marquesa dos ataques.

– Amor, eu posso lutar – reclamava Ardriel.

– Eu não duvido, querida, mas você está gravida de oito meses e alguém tem que cuidar da Gala, não?

– Meu principe, desculpe me intrometer, mas daqui a pouco minhas flechas irão acabar e tu e Borguia, por mais forte que sejais, não conseguireis conter todos sozinhos, ao menos não tendo que proteger os outros – falou Vanys. – Temos que ter um plano de evacuação.

– Querido, o Flecha – falou Ardriel, como se lembrasse de algo que havia sido deixado de lado. – Onde o deixastes?

– Perto daqui, perto o suficiente para ouvir o meu chamado – e, após dizer isso, meteu os dedos na boca e deu um profundo assobio.

– Sem querer ser intrometida, princesa, mas um grifo só no máximo conseguirá tirar a senhora daqui com a sua enteada – falou Lady Elaine, que se encontrava armada de um escudo e uma espada, ao lado de Ardriel. – Como o seu marido pretende sair daqui?

– Se o conheço bem, não pretende, ele só quer tirar as mulheres daqui para poder lutar sem se preocupar. E, desculpe, mas a senhora está acostumada com o tamanho diminuto dos seus grifos. Flecha é capaz de carregar até o peso de quatro adultos por distancias curtas.

– Ele é tão grande assim?

Antes que Ardriel respondesse, uma grande sombra os cobriu e o enorme animal, arremessando com seu bico e suas garras alguns bandidos posou ao lado da tribuna.

– Minha filha já tinha dito, mas eu me recusava a acreditar que existisse um grifo que fosse quase o dobro dos nossos grifos.

– Amor, você, Galawel e Lady Elaine devem subir e sair, nós daremos cobertura – falou Lucca.

– Meu príncipe, vá no meu lugar – respondeu a marquesa.

– Agradeço o oferecimento, mas antes de ser um príncipe, eu era um cavaleiro e um cavaleiro não foge deixando uma dama para trás. Não se preocupe, Marquesa, assim que as deixar num lugar seguro, Flecha voltara para me ajudar. Aliás, Vanys, suas flechas estão acabando. Vá com elas.

– Oxê, com todo o respeito meu príncipe, se o senhor fica, eu fico e eu tenho isso aqui comigo – respondeu a arqueira batendo no cabo de uma espada curta que estava na sua cintura.

– Bem, eu ofereci – sorriu Lucca.

Enquanto Ardriel, Elaine e Galawel, tendo a cobertura de Lucca, Borguia e Vanys, montavam no grifo, Rubi, Solanum e Gabys, agora acompanhada de sua grifa, que abrira caminho na marra até sua dona, enfrentavam os bandidos no centro da arena, observados pelo líder da horda invasora e pelo imenso orc que viera com ele.

Os invasores tentavam, mas não conseguiam quebrar a formação circular formada pelos quatro no centro da arena. Golpe a golpe, e, demostrando pouco sinal de cansaço, eles iam se defendendo até que o líder do grupo fez um gesto para o orc atacar. A criatura partiu com seu imenso machado para cima de Gabys, como se adivinhasse que ela era a mais fraca, fisicamente falando, dos três. A jovem elfa tentou aparar o golpe com a sua espada, mas foi jogada no chão. Ao ver a cena, Solanum correu para junto dela para ver se ela estava bem.

– Estás bem? Não estás ferida? – perguntou ele, de maneira aflita.

– Bem, estou bem sim, um pouco tonta… – respondeu, sem graça, diante de tanta atenção, a moça.

– Que bom… Deixa-me ajuda-lá a levantar.

– Solanum, o orc!

O elfo olhou e viu que o bandido se preparava para atacá-los. Não tendo tempo para levantar-se, o jovem só abraçou Gabys, preparado para usar o próprio corpo com escudo para protege-la. Ambos, de olhos fechados, já aguardavam o impacto do golpe quando um barulho proveniente do choque de dois objetos metálicos se fez ouvir. Ao abrirem os olhos, os dois elfos viram a princesa em pé, na frente deles, aparando o golpe do orc com a sua espada.

– Dá para pararem de namorar e me ajudarem um pouco? – resmungou a princesa. – Deixem que do orc eu cuido, afinal, pelo jeito, sou a mais forte dos três.

Muito sem graça, Solanum e Gabys se levantaram, espanaram a poeira e retomaram a luta.

– Como ela conseguiu aparar o golpe? – perguntou Gabys à Solanum, no meio da luta.

– Ela é uma Bianchi por parte de mãe e, provavelmente, herdou a força ampliada da familia. Agora, me preocupa como vamos fazer para vencer tantos adversários….

– Ué, essa sua espada não é mágica? Use-a.

– Com esse dia de sol? Fica difícil a não ser que…., é isso!

– É isso o que?

– Tu andaste treinando magia, certo?

– Só magia de controle climatico, do tipo invocar nuvem de chuva embora minhas nuvens nunca chovam.

– Não importa, eu apenas preciso de algumas nuvens. Podem até ser nuvens pequenas.

– Tá bem. Se me deres cobertura….

– Darei.

Gabys fincou a espada no chão, ergueu as mãos para o alto e começou a pronunciar algumas palavras. Logo nuvens surgiram no céu, pequenas nuvens brancas, mas, ainda assim, nuvens. Ao ver o que ocorria no centro da arena, Lucca sorriu levemente, como se adivinhasse o que ia acontecer.

– Pronto, e agora? – perguntou ela.

– Agora a minha espada magica vai resolver, como desejavas

Solanum ergueu o seu florete para os céus e das nuvens surgiram vários raios que acertaram somente os vilões, fazendo-os caírem desmaiados no chão. Logo após o barulho dos raios cessar, ouviu-se um toque de corneta que imitava o barulho de um trovão e, através do portão principal da arena, surgiam um pelotão de soldados que traziam a flâmula dos Ralit, um flâmula vermelha com um cavalo negro, liderados pelo Lord Ralit e pelo irmão de Solanum, Lycoper.

– Pelo jeito o seu avô não fugiu realmente – comentou Gabys para Solanum.

– Harduin pode ser tudo, menos covarde – disse Lucca que silenciosamente se aproximara dos dois.

– Isso é verdade. Agora deixa o meu avô escutar o senhor chamá-lo pelo primeiro nome que ele vai reclamar mais do que se tivesse sido chamado de covarde – comentou, rindo, Solanum.

– Como se eu me importasse – sorriu Lucca.

O pelotão da casa de Ralit tratou de capturar todos os bandidos e, depois de uma breve “conversa” com Lucca, o comendador acabou por confessar e, de fato, a situação era exatamente aquilo que Lucca imaginara: ele criara o atrito entre os dois lados para conseguir a verba do rei.

Um dia depois, o castelo dos Ralit sediava um baile para comemorar a paz. Rubi, usando um vestido rosa claro muito à contragosto, Ardriel, usando um vestido branco largo devido à sua gravidez, e Lucca, vestido da maneira casual que lhe agradava ou seja uma calça de algodão cinza larga e uma túnica branca com detalhes prateados nas bordas, que trazia Gala dormindo no seus braços, observavam Gabys e Solanum dançarem no centro do salão. A jovem elfa estava com seus longos cabelos loiros soltos e estava vestindo um lindo vestido grená, quase cor de vinho tomara-que-caia e usava uma discreta tiara de brilhantes na cabeça. Já Solanum trazia seus cabelos escuros cortados curtos, seguindo a nova moda entre os oficiais e usava o uniforme dos oficiais de Erdan: uma calça branca com um friso vermelho sangue e uma casaca verde-escuro, com algumas medalhas no peito e dragonas douradas no ombro.

– Els ficam bem juntos, não? – comentou, sorrindo, Ardriel.

– De fato, a combinação de grená e verde é uma combinação que me agrada – retrucou, sorrindo, Lucca. – Mas, falando sério, Solanum sempre foi a fim dela, desde que a conheceu à cinco anos atrás.

– E por que ele nunca tentou nada? – perguntou Rubi.

– Por causa do seu cunhado, irmãzinha. Gabys, assim como a maioria das meninas que estavam naquele ciclo de treinamento, curtia uma apaixonite aguda pelo meu marido, o que, a meu ver, era plenamente compreensível.

– Tá, tudo bem, não vou entrar no mérito de se era compreensível ou não, mas isso foi há cinco anos e vocês já estão casados. E eu notei um certo clima entre eles na arena.

– Notou? Amor, acho que devemos nos mover então. Acho que cabe a mim ter uma conversa “de menina” com a Gabys e a tu teres um papo mais direto com o Solanum.

– Eu não gosto muito de me meter nesse tipo de história, mas desta vez concordo contigo. Esses dois não vão sair do lugar sem um pequeno empurrão.

Após o fim da música, Rubi e Ardriel foram conversar com Gabys num canto do salão enquanto Lucca e Solanum conversavam em outro.

– Realmente achas que devo me declarar? E se ela disser não? – perguntou, nervoso, Solanum.

– Se ela disser não, ao menos você terá uma resposta, Solanum, o que não pode ocorrer é vocês ficarem nesse eterno impasse. E a Rubi disse que notou um certo clima entre vocês.

– E se a princesa tiver se enganado?

– Nunca saberás sem tentar, não é mesmo?

– Tá e o meu avô? Sabes bem que ele abomina “novos nobres” como os Havillan.

– Se o seu avô recusar a benção à união de vocês, saiba que você terá a minha benção e a benção da minha esposa e pagaremos até dote se for necessario. E eu creio que a benção dos príncipes de Erdan é mais importante que a benção do Visconde de Thundering.

– Certo, me convencestes.

– Ótimo!

Ao mesmo tempo, Ardriel levava uma conversa parecida com Gabys…

– Sem “mas”, Gabys. Minha irmã notou que você ficou balançada pelo Solanum no meio da confusão – falou, de maneira firme, Ardriel.

– Como eu não ficaria, princesa? – retrucou a jovem elfa. – Ele colocou a propria vida em risco para me proteger.

– Então, quer mais prova do que isso? Um homem só renuncia à própria vida sem pensar duas vezes se for para salvar alguém que ama – sorriu Ardriel.

– Mas, o avô dele… – tentou argumentar Gabys.

– O que importa o avô dele? – disse Rubi, se intrometendo na conversa. – Esqueça o velho corcunda. Olhe para ele. Ele é bonito?

– Claro que é, mas….

– Ele é corajoso? – insistiu Rubi.

– Sim, claro que é – respondeu Gabys.

– Você teria algum problema em ser vista ao lado dele? – tornou a perguntar Rubi.

– Claro que não, princesa. Sir Solanum é um perfeito cavalheiro. Qualquer mulher que estiver acompanhada dele estará muito bem acompanhada.

– Então, se ele vier se declarar a você, dê uma chance a ele – afirmou Rubi.

– Mas e a familia dele? Embora Lord Ralit seja um bom vizinho, sei que ele tem implicancia com “novos nobres” como nós e que não vai gostar de ver o sangue da familia dele “misturado” com o meu.

– Deixa que eu lido com Harduin se for necessario – retrucou Ardriel. – Ou melhor, deixa que o meu marido lida. Agora se prepare que o Solanum está vindo aí.

Ardriel e Rubi se afastaram, deixando Solanum e Gabys sozinhos. Os dois jovens se olharam nos olhos, nervosos, por muitos segundos, incapazes de falar qualquer coisa.

– Eu gostaria… – os dois falaram ao mesmo tempo e começaram a rir depois disso.

– Fale primeiro, Lady Gabys…. – sorriu Solanum

– Não, fale tu….

– Eu insisto, primeiro as damas…

– Está bem… – suspirou Gabys. – Tem algo que eu gostaria de perguntar: na arena, você se colocou como meu escudo, sem pensar duas vezes. Por quê?

– Por quê? – Solanum coçou a cabeça enquanto pensava naquilo que Lucca havia lhe dito. – Eu poderia dar mil desculpas, mas a verdade é uma só: porque meu mundo não teria sentido sem ti. Eu gosto de ti, Lady Gabys, há cinco longos anos, desde que eu te conheci nos treinamentos em Arlon e, até hoje eu não tinha tido coragem de me declarar – e, após dizer isso, o cavaleiro se ajoelhou diante da dama. – Tu me permitirias que eu fizesse a corte à ti, visando uma futura união conjugal, Lady Gabys?

A dama sorriu, estendeu a mão para ajudar o cavaleiro a se levantar, tornou a sorrir e falou:

– É claro, mas com uma condição.

– Qual?

– Sem essa de Lady Gabys. Eu não gosto muito de fomalismos, muito menos vindo do meu pretendente.

– Está bem, Gabys.

– Me concedes essa dança? – perguntou a jovem, estendendo a mão.

– Com muito prazer.

Os dois voltaram a bailar, sob os olhares alegres de Ruby, Lucca e Ardriel.

Um ano depois, sob as bênçãos da familia real, Gabys e Solanum se casaram na capela do Palácio Real de Erdan. Lord Harduin no início deixou claro que não lhe agradava muito a união mas, ao ser informado que o Rei abençoara o noivado e declarara que fazia muito gosto da união, subitamente mudou de opinião e parou de criticar a união dos jovens. E cinco anos depois nascia o primeiro filho do casal: Solanum Havillan Ralit, futuro Marquês de Grifhin e Visconde de Thundering

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